quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

  Para desafogar o sistema

Com vistas a combater a lentidão do Judiciário brasileiro, duas medidas deverão entrar em vigor nos próximos dias. Uma é a súmula vinculante, uma idéia que já desde muito tempo vem sendo discutida no Brasil, mas que só agora foi aprovada. Por ela, uma vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronuncie sobre determinada matéria, a decisão passa a ter efeito vinculante, ou seja, todos os processos similares a partir de então terão automaticamente a mesma solução. A segunda medida é o mecanismo de repercussão geral. Por ele, se um ministro do STF entender que a um processo falte interesse social ou relevância, o magistrado tem o direito de nem sequer analisar o pedido. Essa medida pode ser útil na medida em que o Supremo se vê obrigado a se pronunciar acerca de todo e qualquer caso, desde que uma das partes alegue que a decisão em instância inferior fere os princípios constitucionais. Assim, casos absurdos conseguem chegar a mais alta instância jurídica do país, como a briga entre vizinhos de um condomínio contra a presença de uma cachorrinha Poodle.

Para os que acham que a complexidade dos casos da vida é superior ao conteúdo de meia dúzia de súmulas vinculantes, e para os que pensam que todos os casos são iguais, os dois grupos devem concordar que as medidas, pelo menos, contribuirão para desafogar o sistema.

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

  Filme: Uma Noite no Museu

No filme “Uma Noite no Museu”, Ben Stiller interpreta Larry Daley, um pai divorciado que divide a custódia do filho pequeno com a mãe. Sob a ameaça de perder a possibilidade de passar as quartas-feiras e os fins de semana com o filho, ele decide procurar um emprego em uma agência. A vaga para a qual o designam é a de guarda noturno no Museu de História Natural.

Mas o que Larry não imagina é que a tarefa seja extremamente árdua. À noite, as criaturas de cera do museu ganham vida, e a função do guarda noturno é a de garantir que ninguém entre e ninguém saia – e que todos permaneçam vivos e inteiros durante a diversão da madrugada.

Assim, Larry precisa garantir que pequenos caubóis não travem batalhas de disputa de domínio com miniaturas de romanos, ou evitar que o leão ataque os demais animais. Ele precisa também escapar das garras de Átila, o Huno – e de seus comparsas, que cismam em tentar partir suas vítimas em várias partes ao puxá-las pelas extremidades de seus membros. Há ainda no museu, dentre outras coisas, a réplica de um Tiranossauro Rex que age feito um cachorro, perseguindo um osso a noite toda, de uma estátua da Ilha de Páscoa que masca chicletes, e do 26° presidente norte-americano, Theodore Roosevelt, interpretado por Robin Williams, cuja figura de cera se mostra bastante útil e prestativa para Larry ao dar dicas de como conter o caos provocado pela convivência de criaturas tão díspares no espaço físico do museu.

A lição que o filme tenta passar é a de que, conhecendo a História, aprende-se a saber como lidar com ela. Ao perder o manual de instruções de como lidar com as criaturas do museu, Larry percebe que se conhecer um pouco da história de cada um dos personagens de cera terá mais chances de saber lidar com eles (já que, no mundo absurdo criado pelo filme, as figuras de cera absorvem a personalidade do ser que representam).

Mas o filme não se limita a valorizar a História. “Uma Noite no Museu” é também uma comédia, mais ou menos direcionada para o público infantil (mas que não se esgota nele), com piadas inteligentes e a capacidade de produzir humor a partir de coisas improváveis e de clichês, como um boneco de cera, que, ao ser partido ao meio, diz “Relax, we're made of wax”.

Mesmo com todos os clichês e com a falta de originalidade, o filme é uma comédia leve e descontraída, que serve para provar que é possível se divertir mesmo sem romance, sem sexo, sem apelações, sem exageros, e sem viradas bruscas no roteiro. A previsibilidade não tira a graça do filme.

Resumindo, se for para encarar como um filme sério, não assista. Mas se for para encarar como um filme leve e descontraído, adequado para toda a família, com piadas divertidas, trama descomplicada e bastantes efeitos especiais, vá em frente!

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domingo, 25 de fevereiro de 2007

  Comentários

O espaço para comentários nos blogs permite que se crie um ambiente para debates. A mera existência da caixinha de comentários já demonstra o quanto a pessoa que posta se importa com a opinião dos outros - do contrário, nem se preocuparia em colocá-la em seu site. É a possibilidade de comentar - e, conseqüentemente, a interação entre emissor e receptor - o que torna os blogs uma ferramenta revolucionária, muitos passos à frente de uma fria página pessoal, de conteúdo estático, e sem aberturas à interação, sem espaço para a expressão da opinião do Outro.

Com base nisso, dêem uma olhada no último comentário feito na postagem "Simple Plan no Big Brother" (ou melhor, fica mais fácil de entender lendo os demais comentários junto). É por essas e outras que vale a pena ser blogueira :) A pessoa (ou "PeXÔa") deve ter encontrado a postagem descontextualizada via Google, e, mesmo sem acompanhar o blog (ou "bLOgUxO") como um todo, resolveu manifestar sua opinião sobre o fato.
Abaixo a "ipocRIsIa", ViVA a LiBerRdaDE d eXXpREsSÃo!

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sábado, 24 de fevereiro de 2007

  A hora de volta

Daqui a pouco o governo vai nos devolver a hora que nos tomou no início de novembro do ano passado. Logo agora que estou com uma gripe incômoda que já dura uns dois dias, uma gripe tão forte que seria capaz de derrubar um dinossauro. (Aliás, quem garante que os dinossauros não foram extintos depois de uma supergripe de efeito cavalar – ou de efeito mamutal,ou seja lá qual fosse o animal mais famoso pela imponência naquela época -, hein, hein, hein?) Mas é muito cruel isso que o governo fez de nos tirar uma hora no momento mais crucial (final de ano; no meu caso, começo da semana de provas) para devolver justo em uma época em que menos se precisa (fim de férias). Uma hora a menos de estudo, uma hora a mais de gripe. Yay.

Em tempo: a economia de energia, objetivo-mor do horário de verão, para variar, foi atingida. Tudo bem. Pelo menos esculhambam nossos relógios biológicos duas vezes ao ano por um bom motivo.

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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

  Nova atribuição do MPF

Já imaginou como seriam diferentes as coisas se os autores de novelas fossem encarregados de defender juridicamente os interesses do cidadão, ao passo que aos procuradores coubesse a tarefa de escrever novelas? Pois então, o Ministério Público Federal de São Paulo resolveu inverter os papéis e enviou um pedido ao diretor da novela Páginas da Vida solicitando a alteração de parte do roteiro antes que a novela termine, no dia 2 de março.

A idéia é alterar os capítulos para incluir cenas que mostrem que é dever dos pais levar crianças deficientes para escolas regulares - ao invés de se tratar de uma mera opção, como ficou subentendido a partir das primeiras cenas referentes ao tema veiculadas na novela. Os procuradores também pedem que a novela mostre que a recusa de uma escola comum em aceitar crianças com deficiência pode gerar responsabilização nas esferas cível, penal e administrativa.

Como alternativa, o pedido sugere que a emissora exiba por pelo menos três dias esclarecimentos ao final da novela (no lugar daquelas bizarras lamentações dos cidadãos comuns) esclarecendo que menores deficientes também possuem direito inalienável (os direitos humanos são inalienáveis, imprescritíveis e irrenunciáveis) de freqüentar escolas regulares.

O Consultor Jurídico ainda complementa a informação com uma leve tirada sarcástica: “Não consta das atribuições do Ministério Público reescrever o roteiro de novelas”.

O divertido da situação fica por conta da possibilidade de inverter papéis. Se coubesse ao Jaime Monjardim “dirigir” a redação de um parecer jurídico, e ao Manoel Carlos a tarefa de redigi-lo, com certeza teríamos um pedido cheio de “considerandos” capazes de fazer o pólo passivo da decisão debulhar-se em lágrimas. A emoção fluiria a todo vapor. Cada considerando seria feito por um cidadão diferente, relatando seu caso dramático de vida, o que resultaria em páginas e páginas de lamentações.

Talvez a participação da equipe de roteirização de uma novela no Judiciário fosse capaz de fazer atingir o ideal da linguagem jurídica acessível ao povo. E se o Judiciário tivesse participação mais ativa nos roteiros, as pessoas não teriam que engolir absurdos de atropelamentos jurídicos.

Mas, por enquanto, o melhor é deixar que os procuradores defendam os interesses do cidadão e os autores de novela entretenham a população. Em um mundo ideal, um não deveria interferir na esfera de atuação do outro. Mas como a gente não vive em um mundo ideal, é até mesmo possível que a novela tenha que se estender para além do dia 2 de março para cumprir com a determinação do MPF. Resta saber se a recomendação será cumprida.

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  El Ángel Más Tonto del Mundo

Nada como a leitura de uma história completamente absurda para poder nos inspirar a escrever e ler cada vez mais. Em “El Ángel Más Tonto del Mundo” (The Stupidest Angel em inglês, aparentemente ainda sem tradução para o português), Christopher Moore, considerado um dos maiores escritores satíricos da atualidade, nos brinda com uma história natalina sem pé nem cabeça.
A história se passa em Pine Cove, um pequeno povoado na Califórnia, a uma semana do Natal. A trama básica envolve um menino de sete anos, Joshua Baker, que, ao voltar tarde para a casa um dia, vê o Papai Noel sendo morto por uma mulher com uma pá. A partir daí, o menino passa sofrer porque, além de achar ser sua culpa o fato de Papai Noel estar morto (já que ele voltou tarde para casa), os adultos acreditam que ele esteja falando metaforicamente quando diz que o Papai Noel morreu. Na verdade, o que Josh viu foi a morte de um homem vestido de Papai Noel. Mas como ele realmente crê que era o Papai Noel, e sem Papai Noel não haveria Natal, somente um milagre poderá salvá-lo. E a única pessoa que pode ajudá-lo a salvar o Natal é o anjo mais idiota do mundo, Raziel, que era para ser o anjo que ia anunciar o nascimento de Jesus, mas chegou vários anos mais tarde do horário combinado e acabou dizendo para o próprio Jesus que ele iria nascer.
A advertência do autor numa das primeiras páginas do livro já demonstra o tom de deboche que permeia toda a história: a obra não é recomendada para idosos ou crianças, pois contém “palavrões e suculentas descrições de canibalismo, assim como atos sexuais entre quarentões”.
Um trecho aleatório do começo da obra:
“El teléfono móvil de Theophilus Crowe sonó ocho veces com un irritante Tangled Up in Blue electrónico que parecía un coro de sufridas amas de casa, o como Jiminy Cricket después de aspirar helio, o, bueno, en fin, como Bob Dylan” (página 14)
O autor lançou recentemente uma versão 2.0 da obra, que inclui 35 páginas extras com o que acontece no Natal do ano seguinte dos personagens malucos do livro. Li a versão normal, mas acredito que seria interessante poder saber também o que acontece depois. Se o livro for lançado no Brasil, espero que seja na versão 2. Até lá, fico com a minha cópia em espanhol, impressa na Espanha e adquirida em Punta del Este, numa compra impulsionada mais pelo design da capa e pelo título do livro do que por qualquer outro motivo - mas que se transformou em uma grata surpresa (ao menos no quesito "leitura de descontração").

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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

  De volta ao mundo real

Passei os últimos dias em outro "país" (se é que dá para considerar o Uruguai como exterior - em tese, a fronteira fica a menos de 60km daqui, embora na prática a gente tenha viajado quase 500km), totalmente desplugada do resto do mundo. Não é que fosse impossível habilitar o celular para funcionar por outra operadora, que o quarto do hotel não tivesse televisão, ou que não houvesse cibercafés por lá, mas simplesmente preferi passar o período inteiro longe de toda e qualquer bugiganga hightech. Nos primeiros dias foi difícil resistir à tentação de entrar em contato com o resto do mundo. Mas lá pelo terceiro dia já parecia que a existência do computador, do telefone e da Internet já não faziam mais sentido. No quarto dia, comprei um El País para saber o que acontecia ao meu redor (no fundo, queria desesperadamente saber sobre os fatos do mundo). Ainda bem que no jornal predominava a narração de fatos ocorridos no próprio Uruguai, praticamente ignorando o que acontecia nos outros países - tinha uma breve nota sobre o Carnaval no Rio, e uma que outra linha sobre as insanidades que as celebridades cometem para chamar a atenção da mídia. No quinto dia (também conhecido como "hoje"), voltei. E percebi que ficar cinco dias longe de tudo faz uma baita diferença em termos de organização e de produtividade.

Conseqüências bizarras da escapada tecnofóbica:
- Pela primeira vez em quatorze anos de estudo faltei a um primeiro dia de aula. Eu acho divertido ir a primeiros dias, primeiro porque ninguém vai, e também porque geralmente é nesse dia que são mostradas as diretrizes gerais que irão nortear o período letivo (okay, desisto... ir ao primeiro dia é completamente inútil);
- Absolutamente ninguém me telefonou ou mandou mensagem durante o período em que meu celular permaneceu fora da área de cobertura (ao menos é isso que atesta a total ausência de mensagens de aviso de ligação perdida ou algo parecido ao ligar o telefone quando estava no Brasil). Em compensação, bastou eu ligar o aparelho para que ele tocasse umas três ou quatro vezes na corrida. Lei de Murphy ao contrário?
- Um zilhão de e-mails não lidos, dos quais pelo menos 70% é puro entulho propagandício. E preguiça total para lê-los (melhor: falta de ânimo para tentar - como diria o presidente Lula - separar o joio do trigo).
- Uma péssima notícia de falecimento ocorrida no período. Embora fosse parente relativamente distante (tia avó, mas com nível de afetividade e idade para ser simplesmente tia), tratava-se de uma pessoa muito bacana, o que permite refletir: por que as pessoas boas morrem por motivos cruéis? (no caso, foi câncer - com direito a sofrimento longo e tortuoso).

Enfim, a vida continua. Amanhã (re)começa o retorno à rotina, tanto acadêmica quanto do blog. Por que a primeira lei de Newton insiste em atacar em fim de férias?

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sábado, 17 de fevereiro de 2007

  Cidade fantasma

Praticamente ninguém fica em Bagé durante o carnaval. As pessoas aproveitam os dias de folga para ir à praia, ou para curtir a folia em algum outro lugar. Há até quem prefira fugir para o campo para descansar. O resultado é uma cidade vazia, quase desértica, no período que vai da sexta-feira que antecede o início do carnaval até o meio-dia da quarta-feira de cinzas.

(Este ano ainda há um agravante: a seca, que deixa a cidade sem abastecimento de água por dezoito horas por dia.)

Pelo menos metade das pessoas que foram/irão viajar nesses dias (o ideal seria poder chamar de “feriado”, mas feriado não é, tecnicamente, pois só é feriado nacional o que foi definido em lei, e, bizarramente, no Brasil não é considerado feriado nacional durante o carnaval) vão para a praia do Cassino (em Rio Grande-RS, a cerca de 300km de Bagé). O movimento de migração Bagé-Cassino no verão (e mais especificamente no carnaval) é tanto que as rádios e jornais locais costumam instalar sucursais de praia no Cassino. É até possível transferir a assinatura dos jornais locais para lá.

No caso específico do período da maior festa popular do Brasil, até os blocos de carnaval dos clubes da cidade migraram para o Cassino, a ponto de um dos clubes mais tradicionais de Bagé, o Clube Comercial, ter desistido de promover o seu tradicional baile de carnaval anual. Como alternativa, os bajeenses pulam carnaval na Sociedade Amigos do Cassino, com direito a se sentir quase em casa, tamanha quantidade de conterrâneos que pode encontrar, tanto nos blocos quanto fora deles.

A outra metade das pessoas que saem de Bagé vai em direção a outras praias (como exemplo, Punta Del Este, no Uruguay, também possui uma boa base de bajeenses) ou “para fora” (as pessoas aproveitam a folga do carnaval para curtir um descanso em fazendas, chácaras, sítios, ou em campings).

O resultado são ruas vazias, comércio fechado e poucos carros circulando. Só não é uma verdadeira cidade fantasma porque tem sambódromo, escolas de samba e blocos de rua. Do contrário, Bagé ficaria vazia. Corre até a piada de que o último a sair da cidade no carnaval não deve se esquecer de fechar a porteira.

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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

  Legislação de efeito analgésico

Votar na comoção do momento não vai resolver o problema da criminalidade no país. Desde a morte do menino João Hélio, há uma semana no Rio de Janeiro, nove projetos ligados à área penal foram “desengavetados” no Senado. A maior parte deles versa sobre aspectos processuais penais. Apenas dois almejam alterar a legislação penal em si, e ambos no mesmo ponto, o que os torna excludentes entre si: um prevê a progressão de regime para crimes hediondos após o cumprimento de 1/3 da pena. O outro prevê progressão para o mesmo caso após 2/5 da pena. Ambos procuram se situar em um meio termo entre a total impossibilidade de progressão (prevista inicialmente na lei de crimes hediondos, mas aos poucos abandonada por total negação de ressocialização do condenado) e a progressão padrão do Código Penal, que permite ir do regime fechado ao semi-aberto após o cumprimento de 1/6 da pena.

O regime semi-aberto é a fase intermediária de cumprimento de uma pena privativa de liberdade. Nele, o preso tem a possibilidade de sair do presídio para trabalhar ou estudar durante o dia, mas tem a obrigação de voltar à noite e nos fins de semana. Em uma condenação hipotética a 30 anos de prisão, pelas atuais regras da execução penal, o preso por crime hediondo tem direito de ir do regime fechado ao semi-aberto após o cumprimento de 1/6 da pena, ou seja, após 5 anos. Pela primeira proposta de alteração da lei, a progressão se daria após 1/3 do cumprimento da pena, ou seja, após 10 anos. Pela segunda proposta, a progressão só se daria após 2/5 da pena, em 12 anos. Qualquer das alternativas parece mais branda que a total impossibilidade de progredir, mas mais rigorosa que a situação atual permitida.

Um outro projeto recém iniciado (e que portanto ainda terá muito caminho pela frente até que vire lei) foi suscitado diretamente pela morte do garoto. Trata-se de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) propondo a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos se os crimes cometidos forem hediondos ou equiparáveis a hediondos (como tortura e terrorismo).

O que deve ser observado é que qualquer tentativa de apressar a aprovação desses projetos de lei pode ser prejudicial. Criar leis como (pretensa) solução pontual a problemas específicos nem sempre se mostra uma boa solução a longo prazo. Entretanto, a edição de uma nova lei cria um efeito analgésico sobre a população, e ajuda a dissipar a sensação de impunidade, embora na prática tudo continue o mesmo. Mas de nada adiantará alterar a lei se os recursos estruturais necessários para aplicá-la não forem providenciados, como aumentar o número de juízes, contratar mais policiais e ampliar a capacidade carcerária do país. Do contrário, haverá cada vez mais gente apta a ir para um presídio convencional, e o excedente impune será percebido nas ruas – ou nas rebeliões de presídios superlotados.

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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

  O papel das ONGs

O Estado do bem-estar social tem por razão de ser a tentativa de resolver os problemas sociais de seus cidadãos. Mas nem sempre as prefeituras e os estados (a quem incumbe a tarefa de realizar ações sociais) conseguem lidar com todas as situações que necessitam de amparo. Assim, o governo delega a função às ONGs, que atuam nas brechas deixadas pela atuação dos municípios e dos estados, em busca da promoção social das parcelas da população menos favorecidas.
Segundo a Wikipedia, as ONGs, ou organizações não governamentais, são associações do terceiro setor (da sociedade civil), que desenvolvem ações, sem fins lucrativos (com finalidade social), em diferentes áreas, em busca da promoção social.
Simplificando ao máximo, na prática, funciona assim...Você cria uma ONG, pede dinheiro para o governo, ajuda os necessitados – muitas vezes, são os próprios necessitados que se ajudam mutuamente – gasta o dinheiro público e, salvo raras exceções, nem sequer precisa prestar contas ao governo.
Ontem passou um programa sobre o terceiro setor na TV Senado, explicando toda a situação. Na ocasião, foi dito que os recursos federais repassados anulamente às ONGs são da ordem de bilhões de reais. Mas, mesmo envolvendo grandes somas de dinheiro público, não há um controle rígido dos gastos – o controle das contas é feito apenas por amostragem, sendo que as ONGs não selecionadas para prestar informações financeiras podem gerir livremente os gastos do dinheiro público.
A solução apontada seria a criação de uma legislação específica para regular a atuação das organizações não governamentais. Assim, deveria haver processo licitatório para decidir qual ONG tem competência para atuar em uma determinada questão social, além da exigência de se prestar contas ao Ministério Público.
De qualquer modo, é inegável o papel desempenhado pelo terceiro setor na promoção do bem estar social. Não fosse as ONGs, talvez grandes parcelas da população permaneceriam às margens da sociedade.

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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

  Produção de significado

É interessante o modo como a mídia (toda, em geral, a televisão, em particular) tenta produzir sentido a partir da justaposição de fatos sem conexão alguma, de modo que, ao mostrarem uma coisa após a outra, a sucessão dos acontecimentos produz um efeito de que se tratam de assuntos relacionados. Às vezes a mídia chega a fazer conexões absurdas. Isso é feito o tempo inteiro nos telejornais. Passa-se de uma manchete a outra sem que a relação entre elas seja estabelecida, de modo que cabe ao espectador, sem subsídio algum, conectar os fatos. Assim, vai-se da reportagem de um macaco no zoológico à cena de um prédio em chamas, ou da vitória de um time azarão em um campeonato importante para um marido que mata a mulher.
Um exemplo de tentativa de conexão explícita de fatos é o que aconteceu na abertura do Jornal Nacional de sábado, que tentava a todo custo fazer ligações mirabolantes entre o menino morto ao ser arrastado do lado de fora do carro e o pai que foi baleado na frente do filho e dos sobrinhos. Exceto pelo fato de que ambos os crimes aconteceram no Rio, e que ambos tiveram como resultado a destruição brutal de famílias, qualquer outra tentativa de conexão pareceria extremamente forçada. Algo como “o pai baleado provavelmente tenha visto o menino ser arrastado, já que morava nos arredores” não parece fugir dos limites do razoável?
Enfim, muitas vezes o objetivo dos jornais é exatamente produzir sentido a partir da justaposição de fatos inicialmente estranhos entre si. O que os jornais muitas vezes (nem sempre) falham em repassar aos telespectadores é algum elo que junte todos os fatos, como dizer que as demissões de uma fábrica e a alta no dólar têm a ver com um recesso que se está tendo na economia, ou, forçando ao máximo, passar aos espectadores a idéia de que todas as notícias ali descritas nada mais são do que um verdadeiro panorama da cultura contemporânea. (Se bem que a cultura, como muitas outras coisas do mundo, só adquire significado dentro de uma perspectiva histórica – é preciso passar algum tempo para que se dê valor ao que era produzido até então.)

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domingo, 11 de fevereiro de 2007

  Só faltava essa

A notícia é "velha", mas... só falta a Cicarelli inventar de tentar tirar a Wired do ar também. Para quem conseguiu deixar o YouTube fora do ar, bloquear o acesso à Wired não ia ser nada difícil. E dessa vez a revista tem sua parcela de culpa, porque, ao menos tecnicamente, a modelo não estava fazendo nada de errado (não que ela estivesse fazendo algo errado para causar a polêmica no YouTube, mas, dessa vez, um processo judicial pareceria justo).

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  Meu primeiro Almodóvar

O primeiro Almodóvar a gente nunca esquece. Além de “Volver” ter sido o primeiro filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar que assisti, foi também a primeira vez que fui ao cinema de Bagé. Duas experiências singulares, portanto. Descreverei ambas, em separado. Primeiro, o cinema, depois, o filme:

O cinema

Sempre tive curiosidade em ir conhecer o cinema de Bagé, mas sempre me faltava a oportunidade. O Cine Via Sete é relativamente recente (algo como dois ou três anos) – antes disso, a cidade ficou um longo período sem cinemas. Apesar de ser recente, o cinema está localizado onde há muito tempo atrás havia outro cinema.
Basicamente, sintetizando a saga dos cinemas de Bagé ao máximo, no final da década de 90 e início dos anos 2000, a cidade tinha três cinemas. Mas, num curtíssimo período de tempo, um pegou fogo, outro foi transformado em bingo (no local onde hoje novamente funciona o cinema) e o terceiro virou igreja universal (aliás, destino de todos os prédios grandes da cidade). E Bagé ficou sem cinema.
Várias empresas fizeram planos de abrir um cinema novo na cidade, mas o grande problema era a falta de público em potencial. O problema foi resolvido com o Cine Via Sete.
Em termos de infra-estrutura, a única sala do único cinema de Bagé é melhor que as cinco salas de cinema de Pelotas somadas. A comparação com os cinemas de Pelotas é inevitável, no sentido de que costumo freqüentá-los quase que uma vez por semana. Em comparação, Bagé tem poltronas melhores, ar melhor, maior limpeza, atendimento mais personalizado e sala mais moderna. Entretanto, Pelotas ainda ganha no preço para estudantes – pois permite que se pague meia entrada em todos os dias da semana – e na variedade de filmes.
Para começar, é preciso ter ingresso para entrar nas instalações físicas do cinema bajeense. Do contrário, não é sequer possível ter acesso à área para a compra da pipoca, por exemplo. Com um ingresso na mão, sobem-se as escadas e chega-se a uma espécie de barzinho, com mesas e um balcão, onde se pode comprar pipoca, refrigerante, entre outras coisas. Mas só é possível subir com o ingresso cerca de dez minutos após o final da sessão anterior – entre um filme e outro, o pessoal da limpeza é acionado, para deixar a sala impecável para a transmissão seguinte. A limpeza é tão maniaticamente feita que a sala chega a cheirar a desinfetante – daqueles que se usa para limpar banheiro de ônibus -, o que me causou uma péssima má impressão inicial ao entrar na sala, mas logo desfeita assim que me acomodei em uma das confortabilíssimas poltronas (assunto que será retomado logo adiante).
Antes, cabe falar do que acontece antes do começo do filme quando já se está na sala de projeção. Assim como no ônibus Bagé-Pelotas, que a gente paga para circular por meia hora ainda dentro da cidade, no cinema a gente paga para assistir comerciais de empresas locais, incluindo o informativo semanal da prefeitura da cidade. Os malditos moradores locais sabiam que havia comerciais antes da exibição, e já chegaram 15 minutos depois da hora marcada para o começo do filme. Mas tudo bem, esse é o tipo de coisa que só se aprende após ter ido pelo menos uma única vez no cinema. Da próxima vez já sei que posso chegar mais tarde – ou na hora, caso eu queria me informar acerca das ações do governo municipal.
Após os comerciais, são exibidos os trailers. Mas como o cinema é todo personalizado e feliz, ao invés de serem exibidos trailers aleatórios, eles optam por projetar, a partir de um dvd, apenas os trailers de filmes que serão exibidos no Cine Via Sete nas semanas seguintes. A medida é interessante porque nos poupa o trabalho de criar a expectativa de ver um filme que não irá passar no cinema local.
Os filmes costumam demorar para entrar em cartaz aqui, e quando chegam, mesmo atrasados, se caem no gosto do público, permanecem em cartaz indefinidamente, o que faz com que muitos outros filmes deixem de serem exibidos porque ficarão velhos com o tempo.
No final de 2005 e início de 2006, chegou a passar Oliver Twist por duas semanas. Harry Potter ficou em cartaz por mais de mês. As Crônicas de Nárnia também. Imagino quantos filmes mais apropriados para um público, digamos, mais “adulto”, deixaram de serem exibidos no período.
Mas, voltando à ida ao cinema de ontem, antes do começo do filme (ou melhor, antes do começo dos comerciais que antecedem o filme), há música ambiente na sala de cinema. O tempo todo era música nacional instrumental. Muito bacana. Associado às confortáveis poltronas, daria até mesmo para dormir naquela sala.
As poltronas são um caso a parte. O encosto é bastante alto, o que torna o assento muito confortável. O único inconveniente é que as pessoas baixinhas, como eu, precisam desviar o olhar das poltronas à frente. Mas parece que o pessoal do cinema já pensou nisso por nós, pois a tela fica lá no alto, quase grudada no teto da sala de projeção, de modo que basta olhar para cima para enxergá-la sem se preocupar com o encosto do banco da frente.
Além de confortáveis, as poltronas também possuem porta-copos, o que é bastante prático para apoiar não só as bebidas, como também pipocas ou doces. Na prática, a opção é pouco relevante, pois as pessoas em geral costumam ser civilizadas e evitam comer dentro da sala do cinema – deve ser por isso que existem as mesinhas do lado de fora. Em Pelotas, principalmente no cinema Capitólio, é preciso desviar dos arremessos de pipoca de criaturas felizes sem nada melhor para fazer que vão ao cinema apenas para incomodar os demais.
Em suma, o cinema é bom. Gostei tanto da experiência que pretendo ver mais filmes na cidade, nem que para isso eu tenha que deixar de ver os filmes em Pelotas – visto que é preciso esperar um pouco mais que nos cinemas convencionais para poder assistir aos grandes sucessos de bilheteria em Bagé.


O filme

Volver é um filme divertido, sério, trágico, dramático e emocionante, tudo ao mesmo tempo e na medida certa. Foi o filme indicado pela Espanha para concorrer ao Oscar, mas, por algum motivo qualquer, não entrou para a lista dos cinco indicados para filme estrangeiro. Em compensação, Penélope Cruz recebeu uma justa indicação ao Oscar de melhor atriz – embora na prática tenha poucas chances de levar a estatueta, pois enfrentará concorrentes de peso.
A trama de Volver, como em todo Almodóvar, envolve personagens femininas fortes, uma mãe, uma filha, uma irmã, uma avó e uma amiga tão intensas que chegam praticamente a anular qualquer atuação masculina do filme.
O enredo básico envolve uma filha que mata o (suposto) pai que tentava molestá-la sexualmente, e uma mãe (Raimunda, em excelente atuação de Penélope Cruz) que tenta acobertar o ato da filha, escondendo o corpo do marido em um freezer e inventando desculpas absurdas para que ninguém perceba que ele tenha morrido. No mesmo dia, morre também uma tia de Raimunda (Paula), mas, mesmo gostando muito dessa tia, ela deixa que somente sua irmã (Sole) vá ao funeral, em outra cidade, pois tem que dar um jeito de se livrar do corpo do marido.
A ida ao velório da tia é apenas o começo para que um passado cheio de intrigas e fatos mal-resolvidos possa ser desvendado. A começar pelo aparecimento do fantasma da mãe de Raimunda e Sole, que muitos afirmam ter ressurgido para cuidar de sua irmã Paula enquanto esta estava em seus últimos dias de vida.
Além da trama mirabolante, a parte visual do filme também é riquíssima. Há tomadas feitas em ângulos diferenciados, como a que mostra a movimentação no velório de Paula a partir de imagens captadas do alto. A imagem do guardanapo de papel enxugando o sangue do pai também é interessante (assim como a idéia toda de Raimunda de secar o sangue do marido com toalhas de papel). Já a cena em que Raimunda tenta colocar o corpo – pesado e inerte – do marido no freezer horizontal de um restaurante parece tão real que é capaz de causar um certo desconforto. Na fotografia, predomina uma explosão de cores intensas e vibrantes, aliadas a um tom escuro característico na iluminação (o que também ocorre em filmes brasileiros).
O nome do filme se refere ao título da canção homônima de Carlos Gardel, com letra de Alfredo Le Pera. “Volver” é cantada no filme pela personagem de Raimunda.

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sábado, 10 de fevereiro de 2007

  O que é ius communicatio?

Ius communicatio, ou jus communicatio é uma forma de aquisição de nacionalidade segundo a qual a mulher, através do matrimônio, adquire a nacionalidade do marido, numa verdadeira “comunicação de direitos”. A mulher fica, desse modo, com uma dupla nacionalidade, adquirida em virtude da relação familiar. Essa forma de aquisição de nacionalidade é possível em poucos lugares, e um desses lugares é a Itália (para quando o marido é italiano e a esposa possui uma outra nacionalidade anterior).

Okay, sentido esclarecido, agora vem o problema: quero mudar o nome do meu blog para algo com um significado menos confuso. Mas, ao mesmo tempo, não ia ser nada bom mudar radicalmente. Por isso, recorro aos leitores: alguém tem alguma sugestão do que fazer?

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  Como se tornar imortal

... encontrando a pedra filosofal.
Alquimistas do mundo inteiro tentaram em vão encontrá-la. Vá que você tenha a sorte de conseguir achar o Elixir da Longa Vida e o segredo para transmutar qualquer metal inferior em ouro. Se bem que passar por todos aqueles feitiços que protegem a pedra em Hogwarts não será nada fácil. Além do mais, disputar a pedra com você-sabe-quem pode representar um verdadeiro risco à vida. E, você sabe, é preciso estar vivo para se poder atingir a imortalidade.

... quebrando espelhos.
Diz a lenda que quebrar um espelho traz sete anos de azar. Mas com a garantia de se viver por sete anos. Assim, bastaria quebrar um espelho a cada sete anos para alcançar a imortalidade*. O único inconveniente seria ter uma vida azarada. Mas não é nada que alguns galhos de arruda não resolvam.

... fazendo download da consciência.
Para a filosofia do pós-humano, atingir-se-á em breve um ponto da tecnologia em que seja capaz de se fazer download da consciência. Desse modo, bastaria “baixar” os dados da mente para viver em um outro corpo ou em um computador, alcançando, assim, a vida eterna.

... vivendo numa câmara criogênica.
Passar vários anos numa câmara até que se encontre a cura da morte Há um ponto negativo que não deve ser menosprezado: o mundo pode acabar antes disso, e você terá perdido a oportunidade de viver. Em vão.

... entrando para a Academia Brasileira de Letras.
Trata-se de uma espécie diferente de vida imortal. Sua obra será eterna, embora fisicamente você não exista além do tempo de vida padrão. O difícil vai ser se tornar um grande escritor, de talento renomado. Mas vale a pena o esforço, em nome da imortalidade.

... convertendo-se ao espiritismo.
Você passará a crer que viverá para sempre, embora, na prática, terá uma vida com a mesma duração da dos demais. De qualquer modo, a ilusão o fará viver melhor consigo mesmo, na medida em que terá a certeza de que a vida será eterna – e, como bônus, você ainda pode aspirar a ter sua alma aprimorada na próxima reencarnação.

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* idéia baseada no comentário de Lynz no post sobre a quebra de espelhos :P

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  Redução da menoridade penal

A discussão sobre a redução da menoridade penal voltou a ocupar um papel de destaque na mídia após o caso do menino João, de 6 anos, que morreu ao ser arrastado por 7km em um carro no Rio, estando preso do lado de fora do automóvel pelo cinto de segurança.

Um dos responsáveis pelo crime é menor de idade. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a punição do menor será de no máximo três anos (por medida sócio-educativa). Os demais envolvidos no caso podem ficar presos por até 30 anos (pena máxima permitida no Brasil). Será que é justo?

As soluções possíveis para o problema incluem, entre outras alternativas:

- A possibilidade de se cumprir três anos como medida sócio-educativa, e, assim que adquirir a maioridade penal, o menor ser transferido para um presídio e continuar o cumprimento da pena pelo delito – o que exigiria uma dosimetria de pena especial.

- A redução da menoridade penal (de 18 para 16 ou 14 anos).

- Dar a liberdade para que cada estado tenha a possibilidade de legislar sobre direito penal, de modo que possam escolher livremente a idade mínima para que se vá para a prisão convencional, mais ou menos como acontece nos EUA. Isso exigira mudanças na Constituição Federal.

A redução da menoridade penal é a solução mais simples. Entretanto, não será necessariamente a mais eficaz. Ter a possibilidade de colocar em uma cadeia simples menores de 18 anos não significa que a criminalidade irá reduzir.

O problema é que a redução da menoridade penal valeria para todos. Não é só para o caso em questão, e sim para todo e qualquer menor infrator que venha a cometer um delito. Aliás, como no Direito Penal brasileiro vigora o princípio de que não há pena sem prévia cominação legal, mesmo que a redução da menoridade penal fosse sancionada no Congresso Nacional hoje mesmo, em um processo legislativo em tempo recorde, o menor envolvido no caso do menino arrastado não poderá ser preso com base nessa lei, pois ao momento do cometimento do crime o menor de idade ainda era punível pelo ECA.

O fato de que isso valeria para todos torna ainda mais polêmica a questão, e agrava a dificuldade em se alterar a legislação penal. Mudar pelo êxtase do momento pode não ser muito apropriado. Voltar atrás pode ser bem mais difícil depois.

Mesmo assim, desde muito a divulgação de crimes bárbaros pela mídia tem contribuído para provocar alterações na legislação. Um exemplo recente é o que aconteceu com a lei de crimes hediondos (8.072/90). A lei foi editada após uma onda de seqüestros mediante extorsão (quando se exige dinheiro pelo resgate) ocorrida no Brasil no final da década de 80. A lei se tornou ainda mais conhecida após a morte da atriz Daniella Pérez, morta por outro ator que contracenava com ela em uma novela à época. A mãe da atriz era também autora da novela, e utilizou sua posição de destaque na mídia na ocasião para pressionar que a legislação fosse alterada de modo que o crime de homicídio qualificado fosse incluído no rol de crimes hediondos. Embora o culpado pelo assassinato da atriz não tenha podido ser condenado nesses moldes, a mudança na lei provocada pela mídia alterou o destino de todos aqueles que vieram a cometer o delito a partir de então. Outra alteração na mesma lei ocorreu após uma denúncia de falsificação de remédios feita pelo Jornal Nacional.

Enfim, é inegável o quanto a mídia contribuiu e vem contribuindo para mudanças na lei. A pergunta é: será o caso do garoto também capaz de modificar a legislação penal?

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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

  Do celular para o YouTube

Além de se poder enviar fotos diretamente do celular para o Flickr, também é possível enviar vídeos gravados na câmera do celular diretamente para o YouTube. As fotos para o Flickr são enviadas através de uma simples conexão com a web pelo celular. Para tanto, é preciso tirar a foto enquanto se está conectado. Já o vídeo a ser enviado pelo YouTube pode ser preparado e editado com antecedência: o envio é feito por MMS (mensagem multimídia).

O primeiro passo é ativar o endereço de e-mail para envio da mensagem junto ao site do YouTube (antes disso, é claro, é preciso ter uma conta no YouTube). É só preencher alguns detalhes, como o título e as características do vídeo a ser enviado, e ao final do processo será criada uma conta para envio de vídeos de seu celular, com um endereço de e-mail exclusivo pelo qual você deverá enviar o seu vídeo. Depois, basta escolher um vídeo já pronto no celular, incluí-lo numa mensagem multimídia, e enviar para o e-mail fornecido pelo YouTube. Se a opção correspondente for escolhida no site do YouTube, ainda no computador, você poderá receber uma mensagem de confirmação no celular certificando que o upload do vídeo foi feito com sucesso. Depois é só esperar os trâmites de conversão do vídeo (do formato do celular para o formato padrão do YouTube – a parte mais demorada do processo), e, pouco tempo depois, o vídeo feito na câmera do celular irá aparecer em sua conta do YouTube. Aí é só copiar o endereço, assistir até cansar, divulgar para os amigos, e ainda aproveitar para publicar na parte de vídeos do Orkut (!).
Este é o vídeo que usei como teste. Gravado e editado no celular, enviado por MMS para o YouTube. Preço total da operação: R$0,60.

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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

  Melhor petição de todos os tempos

Um advogado paulista que movia uma ação em causa própria juntou aos autos do processo uma petição com a imagem de um palhaço. A petição teria sido enviada logo após a prescrição da queixa-crime. Na petição, além da imagem (precedida da frase “A imagem resume o atual estado de alma do Querelante”), o advogado reclama da inércia do juiz, que teria ficado quatro meses com os autos conclusos para sentença (a conclusão para sentença ocorre quando as páginas do processo saem do cartório e vão para o gabinete do juiz aguardando que este profira a sentença que dará fim ao processo, decidindo sobre a causa ou reconhecendo algum aspecto formal que dê fim ao processo sem que haja julgamento de mérito), e dos servidores jurídicos em geral, pois teriam contribuído para que os prazos não fossem respeitados, como, por exemplo, quando uma carta precatória (uma carta precatória é expedida quando é preciso realizar algum ato em outra cidade – o juiz não possui competência para intimar alguém que resida em outra cidade, por exemplo, e, para realizar a intimação, deve enviar uma carta precatória solicitando que um juiz de mesma hierarquia da outra cidade tome as providências necessárias para fazê-lo) com prazo de 60 dias expedida em abril de um ano só fosse retornar em março do ano seguinte.
Vale a pena conferir a íntegra da petição, que se encerra com as seguintes palavras:
“A lamentação termina aqui. Não cabe continuar gastando vela boa com mau defunto. O processo está morto, e logo o seu fim será o de um insepulto cadáver de papel mofando no arquivo geral de Jundiaí”.

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  Viagem de ônibus

Os ônibus que fazem a linha Pelotas-Bagé-Pelotas são um tanto antigos e desconfortáveis. A maior parte deles possui ar condicionado. Alguns poucos possuem “ar condicionado digital” (aquele que a gente abre com o dedo: janela). Mas, mesmo quando o ar funciona, muitas vezes ele é insuficiente para refrescar todos os passageiros – principalmente nos dias quentes de verão. Além do ar, há o problema dos bancos. Os assentos são duros e reclinam pouco. Entretanto, no geral, o problema maior nunca é no ônibus em si, mas sim no modo como as pessoas se comportam dentro dele a cada viagem que se faça.

Ontem fiz uma viagem noturna (nada de livros, portanto). O trajeto era Pelotas-Bagé. Não havia crianças chorando, nem pessoas conversando em alto tom como se estivessem na sala de suas casas. Talvez porque fosse de noite, o silêncio reinava – não o tempo todo, mas durante boa parte dele. Ninguém sentou do meu lado durante a viagem inteira. Percorri os quase duzentos quilômetros que separam a casa dos meus pais da cidade onde vivo a maior parte do ano com o banco ao lado de mim totalmente vazio. Em tese, isso é bom. Como legítima anti-social, não precisei me sentir culpada por não cumprimentar o estranho do assento ao lado, ou não tive de ficar me remoendo por horas por não ter sequer virado o rosto para o lado quando algum ser de fisionomia duvidosa perguntasse se o lugar ao meu lado estava vago.

Mas mesmo que a viagem na maior parte do tempo estivesse tranqüila, sempre há ressalvas. Em um dos raros momentos em que havia sinal de telefonia celular ao longo da estrada, uma passageira conversava com sua mãe ao celular, pelo odioso sistema de conversa de três segundos. O toque do aparelho era incrivelmente alto e irritante. E, para piorar, cada vez que a mãe ligava, a jovem apenas repetia “Fala, mãe”.

Além disso, toda vez que percorro o trajeto Pelotas-Bagé me pergunto de onde saem tantas pessoas que moram na beira da estrada. Quase todos os ônibus que percorrem essa linha intermunicipal o fazem na modalidade “comum” (o vulgo “pinga-pinga”), o que faz com que o carro tenha que parar em todo e qualquer ponto da estrada onde haja passageiro para subir ou para descer. Em tese, não há diferença nenhuma entre o ônibus comum e o direto: ambos costumam percorrer o exato mesmo trajeto. O que muda na prática é o tempo em que a distância será percorrida e o fato de que no ônibus comum se torna praticamente impossível de se fazer qualquer atividade como dormir ou ler, pois quando se vai começar a pegar no sono, ou quando se está prestes a terminar um parágrafo do texto, o ônibus pára de repente e joga nosso corpo para trás. O resultado é que somos forçados a encontrar outras maneiras de escapar do tédio, como conversar ou pensar. Geralmente (quase sempre) opto pela segunda opção, o que me permite dizer que já tomei muitas decisões importantes durante viagens de ônibus, por mais estranho que isso possa parecer.

Enfim, fazia tanto tempo que eu não percorria esse trajeto (ou qualquer outro trajeto) de ônibus que já tinha até me esquecido o quanto uma viagem (no sentido físico da palavra – ação ou efeito de percorrer uma distância) pode ser inspiradora. Isso de ser forçado a conviver com pessoas estranhas, com opiniões divergentes e ações discrepantes, em um espaço físico restrito e por um período de tempo limitado, pessoas cujo único ponto em comum seja o desejo de chegar a um determinado lugar, é capaz de despertar os mais diversos e conflitantes pensamentos. Nada como viver uma situação absurda para voltar a ter vontade de criar. Viajar de ônibus era o que eu precisava fazer para voltar a postar :P

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sábado, 3 de fevereiro de 2007

  7 anos de azar

Quebrei um espelho. Terei 7 anos de azar? Ótimo. Ao menos tenho a garantia de que viverei por pelo menos mais 7 anos :P

Origem da superstição:
A lenda do espelho quebrado existe há muito tempo. A imagem de uma pessoa, seja em reflexo, retrato ou pintura, era considerada parte dessa pessoa, e qualquer coisa que acontecesse com a imagem, aconteceria também ao ser que a tivesse destruído.

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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

  Como aprender idiomas online

Podcast também é cultura. Ontem, stumbleando por aí, acabei chegando a alguns sites bacanas, com dicas de coisas que se pode ouvir em um iPod – ou no próprio computador – tanto para aprender quanto para praticar um novo idioma. Esta página, sugere que se ouça notícias em ritmo mais lento (ideal para quem está aprendendo um novo idioma), esta outra traz uma série de links para cursos online de idiomas, e este site oferece diversos livros em áudio para download gratuito.

Os livros em áudio, em inglês, podem ser baixados em ThoughtAudio.com. Há diversas opções de clássicos da literatura, nos mais variados estilos, desde A Metamorfose, de Kafka, até O Manifesto Comunista, de Marx e Engels.

Para quem quer praticar um idioma em doses homeopáticas, duas emissoras européias, a Radio France Internacionale (RFI), da França, e a Deutsche Welle (DW), da Alemanha, oferecem programas em áudio em versão fácil de entender, com duração aproximada de 10 minutos cada. O programa diário da RFI, Le Journal en français facile, traz notícias internacionais em um francês lento e fácil de entender. O programa da DW, Langsam gesprochene Nachrichten, traz o mesmo conceito (notícias internacionais, ritmo diário, facilidade de compreensão), mas é feito em alemão, e num ritmo ainda mais lento que o programa análogo em francês. Para quem ainda assim acha complicado entender outro idioma, ambos os programas oferecem a transcrição do áudio, aí é só colocar o áudio para rodar e ler o texto para acompanhar (a transcrição em alemão pode ser encontrada neste feed).

E se você não sabe nada, ou sabe muito pouco desses idiomas, é possível aprender o básico online, também em áudio. Para aprender francês, uma boa opção são as aulas da French Ecole. As lições são apenas em áudio (portanto, espere aprender a ouvir e a falar em francês – escrever fica complicado), e ao final de cada aula há uma dica de filme (em francês) e um quiz com questões relativas à lição que se acabou de ouvir. Entretanto, há um único inconveniente: as aulas são em inglês.

Já para aprender alemão, uma boa dica é o curso Alemão – Por que Não?, oferecido pela Deutsche Welle (a mesma das notícias em ritmo lento) em 4 séries de 26 lições cada. As mais de 100 lições vêm com áudio, livro-texto em pdf (com exercícios, e o texto da lição, para acompanhar) além de abordar detalhadamente tópicos de gramática e vocabulário. O curso é bastante completo, e é em português.

Enfim, há muito mais do que simplesmente música para se ouvir em um player portátil de música.

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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

  Dicionário gráfico


Nada como poder visualizar o significado de uma palavra. O Visuwords é um dicionário gráfico online que mostra o significado dos termos consultados na forma de um gráfico. Você pode arrastar, puxar, trocar a palavra de lugar, tudo em nome de uma melhor visualização da teia de significados.

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