domingo, 17 de dezembro de 2006
Lembranças
Reminiscências do passado. Recordações que insistem em não serem esquecidas. Memórias que não querem ser apagadas. Toda volta para casa é recheada de lembranças e nostalgia.
A cidade - Continua tudo igual. As ruas com seus constantes paralelepípedos irregulares, as calçadas largas e convidativas a um passeio, as casas predominantemente baixas, a grama eternamente por fazer... A rua onde moro está do mesmo jeito de sempre, talvez com os canteiros melhor cuidados. A casa ao lado segue em sua eterna demolição (parece que agora ela é só fachada).
A residência - Tudo é igual, mas ao mesmo tempo tudo é tão hostil. Difícil sentir a casa onde morava novamente como um lar. Os móveis são os mesmos, mas os objetos sobre eles são diferentes. Um relógio de metal levemente adiantado marca a passagem do tempo na biblioteca. O que faz o novo junto ao velho? O que faz o eterno devir junto ao imutável passado? O tempo passa, os livros envelhecem, mas as histórias permanecem as mesmas – constantes, trágicas, eternas.
A piscina parece menor (e de fato o é: colocaram uma piscina dentro da outra e preencheram o espaço vazio com areia para aumentar o tamanho do pátio).
O quarto - Tudo é tão hostil, mas ao mesmo tempo tudo é tão familiar. Meu quarto parecia imenso na infância. Hoje creio que ele tenha proporções normais, talvez seja até um pouco pequeno. Os puxadores da cômoda, outrora dourados, perderam o brilho – se é que algum dia o tiveram. Há um ferro de passar sobre a mesa. Sinal de que o quarto recebeu uma nova utilidade? Olho para os CDs da estante e não me imagino escutando aquelas músicas. Eles pertenceram a mim em algum outro tempo? E por que esses títulos, essas músicas, essas fotos nas embalagens, não me evocam nada?
A cortina segue destoando do todo, de um jeito que parece que ela foi colocada ali, caso fosse capaz de decidir, mesmo contra sua vontade. O abajur já não funciona mais. As paredes estão cada vez menos azuis. Já nem lembro mais por que eu não gostava das almofadas, exceto pelo tom pálido do amarelo e do azul. Mas também não sei se isso é fruto da ação do tempo, ou se elas foram sempre assim, tão desbotadas.
O guarda-roupa está tomado de roupas alheias. Consegui desocupar duas gavetas. Espero que seja o suficiente para que eu me sinta novamente em casa.
Acredito que meus papéis antigos ainda permaneçam no baú. Mas não ouso abri-lo. Talvez daqui alguns dias. Tenho medo das lembranças e dos fantasmas que poderei encontrar ali dentro.
Aquele baú é para mim uma espécie de máquina do tempo. Mas uma máquina que funciona apenas para mim. Qualquer um pode ler as mensagens de caligrafia apressada das páginas ali guardadas. Mas só comigo elas serão capazes de invocar lembranças completas, de um tempo em que, embora não percebesse, eu devia ser feliz.
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