terça-feira, 21 de novembro de 2006

  Prefácios

Eu devo ser uma das poucas pessoas neste mundo que ainda lê prefácios de livros. Na verdade, leio tudo que vem junto com o livro: da contracapa ao textinho (basicamente, dados sobre a obra) que vem no verso da folha de rosto. Ás vezes é possível descobrir coisas interessantes ao se ler os dados referentes à catalogação da obra, como a área do conhecimento ou o público a que se destina.
Mas desta vez peguei um manual jurídico, e achei que não faria sentido ler o prefácio. Afinal, o que eu poderia encontrar de interessante num prefácio de um manual sobre Direito Internacional? Um colega meu, ainda mais tarado por prefácios que eu, resolver lê-lo mesmo assim. E sugeriu que eu desse uma olhada também. O prefácio (melhor: os prefácios) desse livro são particularmente interessantes. No mínimo, servem para despertar a curiosidade do leitor.
Trata-se da obra “Curso de Direito Internacional Público”, de Celso D. de Albuquerque Mello. O livro é gigantesco, e dividido em dois volumes. No total, são mais de 1700 páginas. É realmente uma quantidade de textos imensa – e eu fui forçada a ler praticamente tudo ao longo deste ano para a cadeira de Direito Internacional Público, mas isso não vem ao caso. Faltam cerca de 200 páginas – que preciso ler até sexta-feira.
O bom desse livro é que, com tantas páginas, ele acaba sendo extremamente completo. Praticamente tudo referente ao Direito Internacional é contemplado pelo autor, num rigorismo e detalhamento de fatos incrível. O único problema é que a informação costuma ser um pouco “jogada”. Às vezes há repetição de um mesmo fato (quase com as mesmas palavras, mas com pequenos acréscimos) dentro de um mesmo capítulo, ou então blocos gigantescos de informação que são desmentidos linhas após em outros blocos gigantescos de informação. Essa caoticidade incomoda um pouco, mas não chega a prejudicar a qualidade da informação. E a explicação para o problema está nos prefácios. A seguir, reproduzo alguns trechos dos prefácios (fora o prefácio inicial, assinado por M Franchini Netto, que é mais sério). O próprio autor do livro fez questão de escrever breves linhas introdutórias para cada nova edição de sua obra – que já está na 15ª edição – a 1ª edição é de 1967. Divirtam-se :)

Prefácio da 2ª edição
“Nesta edição, fizemos uma revisão e atualização da anterior, acrescentando várias páginas” (1969)

Prefácio da 4ª edição
“Nesta nova edição fizemos uma revisão e atualização do livro, levando em consideração as transformações ocorridas no DIP no decorrer dos últimos anos” (1973)

Prefácio da 5ª edição
“Procuramos, mais uma vez, rever e atualizar o livro. Esperamos algum dia poder reescrevê-lo a fim de dar maior unidade e clareza” (1975)

Prefácio da 6ª edição
“Esta é mais uma edição revista, ampliada e atualizada. Não tive ainda o vagar necessário para reescrever o livro como é minha intenção” (1978)

Prefácio da 7ª edição
“Posso repetir as palavras da 6ª edição. Os defeitos do livro estão se agravando” (1982)

Prefácio da 8ª edição
“Mais uma vez revimos e atualizamos o livro, sem contudo o reescrever, como deveríamos fazê-lo” (1985)

Prefácio da 9ª edição
“É o mesmo da edição anterior. (...) A intenção do autor era nunca mais publicar a presente obra, mas a necessidade financeira o obrigou a proceder de modo diverso. Esta é uma edição exclusivamente com fim mercenário. Peço ao Editor e alunos que me perdoem” (1991)

Prefácio da 10ª edição
“Tudo igual, mais uma vez revimos e atualizamos o livro” (1994)

Prefácio da 11ª edição
“Como sempre, revimos e atualizamos o livro, sem, contudo, reescrevê-lo como deveria ser feito. O tempo e o dinheiro são curtos. O que conduz a esta nova edição. A grande vantagem do prefácio é ele não ser lido e pelos alunos é totalmente ignorado” (1997)

Prefácio da 12ª edição
“Como sempre fizemos uma pequena revisão e alteração. (...) O maior desejo do autor é ter condições financeiras para poder matar esta obra. Ela já deu o que tinha que dar” (1999)

Não tenho os demais prefácios porque o livro que consegui na biblioteca da faculdade era da 12ª edição (crítica sutil à ausência de recursos da universidade). Mas com certeza os demais prefácios devem seguir a mesma linha :P O autor, infelizmente, faleceu em 2005.
Ah, e com certeza o autor devia ganhar bastante dinheiro com a obra, já que os dois volumes da edição de 2004 (a última) saem por pelo menos 250 reais (e já está esgotada, em praticamente tudo quanto é lugar).

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Comentários:

Anonymous Anônimo disse:
Então se quisesse processar no Brasil e no Canadá um cidadão brasileiro, e moro nos EUA, como seria?
 
Blogger Gabriela Zago disse:
Pelo princípio da territorialidade, dependeria do local onde foi praticado o fato. O Brasil adota esse princípio. Os EUA não sei :T Teria que ver o que diz a legislação estadunidense a respeito do caso :)

-- Mas isso é matéria de Direito Internacional Privado. Direito Internacional Público trata das questões dos Estados (envolve chefes de governo, diplomacia, celebração de tratados, e coisas do tipo). Na prova que tenho sexta-feira cai tudo sobre organizações internacionais (como ONU, Mercosul, Nafta, Comunidade Européia, etc.).
 
Blogger w1zard disse:
interessante a empolgação e sinceridade do autor.
 
Anonymous Anônimo disse:
"uma edição exclusivamente com fim mercenário."

um advogado sicnero, impressionante.
 


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