sábado, 14 de outubro de 2006

  Admirável Mundo Novo

"O wonder!
How many goodly creatures are there here!
How beautious mankind is!
O brave new world,
That has such people in't!" (Shakespeare, The Tempest, Ato V, Cena I)

"Admirável Mundo Novo” foi escrito na década de 30 pelo inglês Aldous Huxley. O título da obra vem da fala de Miranda do livro “A Tempestade”, de Shakespeare. Apesar de ter sido escrita há mais de 70 anos, o conteúdo de Admirável Mundo Novo permanece atual. A obra conta a história de uma sociedade totalmente organizada e planejada, na qual as pessoas são fabricadas em laboratório já com seus destinos predeterminados. Para que não haja reação à estabilidade, os indivíduos passam por reiterados condicionamentos ao longo da infância, como ouvir repetidas vezes as mesmas frases durante o sono para que lhes sejam incutidos pensamentos conformes ao sistema. As pessoas são treinadas para não manifestarem suas vontades e desejos. Para manter a felicidade, há o soma, uma droga química poderosa, distribuída em rações diárias para os trabalhadores.

Em um mundo repetitivo e monótono, onde o pensamento é cerceado, não faz sentido haver religião. Deus é Ford. Ao invés do sinal da cruz, faz-se o sinal do T. Os anos são contados a partir de Ford, tido como o pai da produção em série (no filme, até os humanos são produzidos em série – não há famílias, apenas superembriões capazes de gerar milhares de seres humanos idênticos). Para que a estabilidade seja mantida, essa insólita sociedade abomina mudanças. O pensamento científico e as artes são terminantemente proibidos. A higiene é cultuada. Não há doenças. Mas, em compensação, também não há sentimentos. Todos vivem felizes porque desconhecem uma outra forma de se viver.

Aqueles que, mesmo com todo o condicionamento, conseguem desenvolver o pensamento crítico e criativo são mandadas para ilhas para viver em comunidades. Ainda há “selvagens” no mundo, que ficam em aldeias bem demarcadas e são encarados como algo exótico. Selvagens são os que vivem como os seres humanos da época em que o livro foi escrito (em famílias, em casas, etc.).

Apesar da distopia, será que as novas descobertas científicas e invenções tecnológicas não estariam nos levando em direção a uma vida parecida com a narrada no livro? O homem fica maravilhado com as possibilidades abertas a cada novo invento e quer logo colocá-las em prática, mas muitas vezes se esquece de analisar os impactos possíveis dessa descoberta na vida das pessoas. Obviamente, não se tem como parar os avanços tecnológicos, mas é preciso ir com calma. Ao invés de se maravilhar com cada descoberta, as pessoas deveriam se preocupar em avaliar o impacto que ela poderá causar na sociedade antes de colocá-la em prática. Sem ordem e controle (paradoxal! é preciso ordem e controle para que se evite ainda mais ordem e controle!), sem pensar nas implicações éticas de um invento ou descoberta científica, poderemos acabar numa sociedade tal qual a narrada em Admirável Mundo Novo.
“– Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.
– Em suma – disse Mustafá Mond –, o senhor reclama o direito de ser infeliz.
– Pois bem, seja – retrucou o Selvagem em tom de desafio. – Eu reclamo o direito de ser infeliz." (Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, 2. ed., Editora Globo, 2006, p. 291)

É preciso reclamar o direito de ser infeliz, antes que seja tarde demais... Temos o direito de sentir, de sofrer, de sorrir, de chorar, enfim, de viver - nem que para isso tenhamos que abrir mão de certas comodidades do mundo em que vivemos.

Marcadores:




Comentários:

Anonymous Anônimo disse:
Adorei esse livro. Apesar de achar uma visão de certo modo ingênua em certos pontos, é algo totalmente possível. Indíviduos preparados desde o nascimento coincide muito bem com engenharia genética e afins.


Um bom livro e muito interessante.
 
Blogger Claris disse:
Este ainda não li, mas gostei muito de 'As portas da percepção' e de 'Céu e Inferno'. Valem a pena também!

Beijos!
 
Blogger w1zard disse:
quando li, adorei o livro. dias atrás vi o filme "A Ilha". Não sei se vc já viu, mas agora que postou sobre o livro, lembrei que muita coisa deste livro pode ser encontrada no filme. até mesmo o trabalho em série, onde o protagonista do filme passa o dia injetando um líquido em um tubo, que ele não sabe para onde vai. o processo de condicionamento, a separação por castas, a experiência de descobrir o mundo exterior. realmente, acho que isto não está nos créditos, mas o filme foi baseado nesse livro. =)
 
Blogger Gabriela Zago disse:
totalmente baseado.. até a idéia da ilha em si parece ter sido 'roubada' de admirável mundo novo :P hehe
 
Blogger Lynz disse:
Es muy profundo. Me encanta ese libro, pero no me había fijado bien en ese aspecto: el derecho a ser infeliz... Me da mucho que pensar.
 


Participe desta conversação :)



<< Voltar para o blog
flickr
   

 feed

receba as atualizações do blog por e-mail



categorias academicismos
amenidades
blogs
direito
filmes
google
internet
livros
memes
mídia
orkut
politiquês
querido diário
stumbles
tecnologia


sobre
about me
del.icio.us
flickr
last.fm
orkut
43metas
nano novel
textos
flog
stumbleupon
Gilmore Girls





blogroll
animaizinhos toscos
argamassa
ariadne celinne
atmosfera
bereteando
blog de lynz
blog del ciervo ermitaño
direito de espernear
direito e chips
dossiê alex primo
efervescendo
enfim
every flower is perfect
garotas zipadas
giseleh.com
grande abóbora
hedonismos
il est communiqué
jornalismo de resistência
jornalismo na web 2.0
lavinciesca
marmota
novos ares
pensamentos insanos
rafael gimenes.net
reversus
sententia
universo anárquico
vidacurta.net
vejo tudo e não morro
w1zard.com


arquivo
agosto 2005
setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
abril 2006
maio 2006
junho 2006
julho 2006
agosto 2006
setembro 2006
outubro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007


etc.










Save the Net

Stumble Upon Toolbar

Creative Commons License

Official NaNoWriMo 2006 Winner