domingo, 21 de maio de 2006

  Um domingo qualquer

Hoje eu acordei bem cedo e saí de casa pouco depois das 6 horas da manhã. Mal deu tempo de tomar um café da manhã decente porque demorei muito tempo no banho (sabe como é, dia frio) e quando fui ver já estava quase atrasada para chegar no lugar para o qual eu queria ir.
No caminho, passei por um menino pedindo esmola no sinal. Ele vestia roupas extremamente sujas e rasgadas. Seu olhar era diferente, não parecia que queria o dinheiro daqueles que por ali passassem. Tudo o que ele precisava era de compaixão. Dei-lhe um sorriso. E um punhado de balas que estavam abandonadas no porta-luvas do meu carro desde o último fim de semana na praia. Notei que o menino me sorriu de volta. Mas no fundo percebi que por mais que minhas intenções fossem puras não haveria jeito de acabar com a pobreza e a injustiça no mundo.
Seguindo adiante, pouco antes da avenida principal da cidade, presenciei uma cena que preferia não ter visto. Dois carros haviam se envolvido num acidente, e estavam completamente destruídos. Seus ocupantes eram provavelmente jovens apressados na saída de uma festa que tiveram suas vidas abreviadas por conta da bebida. Acho que vi um corpo estatelado no asfalto. Tentei virar o rosto, mas não deu para evitar.
Logo que passei por ali, tive que estacionar o carro. Uma tristeza profunda tomou conta de mim. Pobreza, mortes. Por um instante, eu desejei que o mundo não existisse - ao menos não do jeito que ele é. Mas logo percebi que de nada adiantaria simplesmente desejar que as coisas fossem diferentes. E em seguida tomei coragem, respirei fundo, e voltei a dirigir. Já passava das 7 horas da manhã quando cheguei no meu destino.
Tive dificuldades para descarregar o porta-malas de meu carro. Eram tantos brinquedos que ele mal fechava. Mas contei com a ajuda de duas simpáticas moças que trabalham no orfanato municipal. Precisávamos ser rápidos: logo, logo as crianças acordariam, e iriam querer ter um presente ao lado de suas camas.
Não muito tempo depois, já havia um presente próximo a cada criança. A parte mais demorada foi justamente posicionar os pacotes em cada quarto sem correr o risco de acordar os anjinhos que estavam dormindo. A tarefa foi cumprida pé por pé. De qualquer modo, não havia pressa. As crianças haviam dormido tarde na noite anterior, pois muitas alimentavam a esperança de ver Papai Noel chegar pela janela – quando, no fundo, tudo o que queriam eram pais de verdade, dois ou três irmãos, uma família.
Não pude esperar até que as crianças acordassem. Mas a diretora do orfanato me ligou no final da tarde para agradecer a entrega dos presentes. Senti-me bem com a ajuda, mesmo que no fundo eu apenas tivesse cumprido com o que o meu chefe tinha me pedido.
Saí de lá para dar uma volta no parque. Estacionei meu carro próximo ao caminho principal. Passei o resto da manhã caminhando pelas alamedas arborizadas do parque, pensando na vida. Perto de meio dia, vi uma cena que me provocou profundas reflexões. No meio do parque, perto de uma clareira, duas menininhas alimentavam um cachorro faminto. Pelas suas expressões, dava para perceber que elas sentiam pena e compaixão pelo animalzinho, que estava com a pata quebrada. Entretanto, a pouca distância dali, havia um mendigo dormindo recostado em uma árvore. O que me pôs a pensar foi o fato de que o cachorro tenha despertado maior compaixão das menininhas do que o mendigo. Como pode o ser humano ser rebaixado a um valor inferior ao de um cão? A que ponto chegamos, que um cão ferido cause maior compaixão que um humano desabrigado?
Como de nada adiantaria ficar apenas indignado, resolvi agir. Fui até o carro-lanche, comprei um cachorro-quente, e ofereci ao mendigo. Primeiro ele se irritou por estar sendo acordado. Notei que ao seu lado havia uma garrafa vazia de bebida alcoolizada. Ele provavelmente tinha ido dormir bêbado, e se encontrava em ressaca. Não demorei muito para perceber o cheiro de cachaça misturado a sujeira que aquele homem exalava. Mesmo assim, não me intimidei. Insisti até que ele estivesse com os olhos abertos. Então, ofereci o cachorro-quente. Imagine o tamanho da minha indignação quando aquele homem começou a me xingar, dizendo que eu não devia ter interrompido o sono dele. Pedi desculpas, estendi mais a mão para entregar-lhe o cachorro-quente, e saí logo de lá. Nenhum obrigado. Por um momento até achei que estava começando a entender as razões que levam as pessoas a sentir maior compaixão pelos cachorros desamparados que pelos humanos perdidos. Mas foi uma constatação passageira. Não posso culpar o mendigo pela situação social na qual ele se encontra. Não é culpa dele que as coisas estejam assim – também não é culpa dos cachorros. (Então, de quem é a culpa?)
Caminhei mais um pouco pelo parque, respirando natureza, e em seguida retornei para o meu carro. Chegando lá, vi que a antena tinha sido roubada. Senti raiva do pivete que havia feito isso. Mas não pude fazer nada. Registrar queixa seria em vão. Realizar justiça privada seria impossível. O jeito era se conformar em ter que comprar uma nova antena. Hoje não ia ser possível, porque nos domingos o comércio está fechado. Essa seria a minha primeira tarefa para amanhã – exceto que eu morri atropelado quanto fui tentar atravessar a rua no final do dia. Gaaaah... Desisto! Quem foi que disse que uma história precisa ter, necessariamente, um final feliz? Quem foi que disse que uma história precisa ter final? :P Abaixo a ditadura das histórias com final!! Reservo-me do direito de encerrar qualquer texto onde eu bem entender :P Unf...
E, obviamente, isso tudo é uma obra de ficção. Eu nem sequer saí de casa hoje :P Quando não se tem uma vida interessante para contar, o jeito é inventar :D




Comentários:

Anonymous Anônimo disse:
"dei-lhe um sorriso" eh otimo :D adorei!! heuheuheh eu percebi logo q era um dos seus textos qnd li "dei-lhe um punhado balas que estavam abandonadas no porta-luvas do MEU carro" KkkkKKKkkk ;) agora sá precisa mudar o final :P
bjos :**
 
Anonymous Anônimo disse:
pensei até que a história era verdadeira ... aeuhaheuahe Ia te sugerir pra passar super-bonder na próxima antena (foi isso q a gente fez no carro daqui pra não roubarem) ueauaehuaehha!!!
 


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